“Fazer nada” é a melhor tendência para 2022

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Os holandeses têm um termo interessante que tem ganhado popularidade nos últimos tempos: niksen. A palavra define um conceito de estilo de vida que tem como base o “fazer nada”. E, em tempos de burnout e cansaço generalizado, fruto da pandemia de coronavírus, há de se concordar que fazer nada pode ser bem interessante.

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Mas o conceito está se tornando popular por um motivo: na verdade, ele define uma tendência para 2022, a ideia de desacelerar e dar mais espaço para os momentos de ócio e descanso não-planejados. Ou seja, para os momentos em que não existem planos e as pessoas se sentem livres para fazer o que têm vontade, sem uma necessidade de produtividade ou de ação iminente.

Entender essa tendência é importante do ponto de vista mental, já que nunca se falou tanto sobre saúde mental, e cuidar da mente é, de fato, essencial.

 

Saúde mental e rotina

Segundo o médico psiquiatra Dr. Rovilson Cunha Junior, é importante entendermos que termos episódios de tristeza e melancolia fazem parte da vida e são respostas emocionais aos acontecimentos do dia a dia – vide a própria pandemia. “O que não é natural é a recorrência e persistência desses sentimentos“, explica. “Se sentimentos de tristeza, desânimo, desesperança e falta de vontade de fazer atividades simples do cotidiano estão frequentes na vida do indivíduo, isso é um sinal de que a pessoa pode não estar bem mentalmente.”

Saber lidar com as emoções é essencial na busca do bem-estar mental, e o autoconhecimento é um passo fundamental para isso também. Nisso, entram uma série de elementos, inclusive a rotina, com suas atividades de todos os dias e a lida com imprevistos ou mudanças inesperadas.

A rotina é um ponto muito importante para o bem-estar do indivíduo. Sabemos que se uma pessoa possui uma rotina mais corrida, cansativa e estressante, provavelmente esse indivíduo estará inclinado a ter episódios de ansiedade ou irritação mais frequentes”, conta o médico. “Já se uma pessoa tem uma rotina mais calma, relaxada, com pausas naturais e limites de tarefas, tende a se sentir menos ansioso e menos sobrecarregado com os acontecimentos do dia a dia;  isso está diretamente ligado ao seu bem-estar.”

Dessa forma, se atentar às sensações e aos sentimentos gerados pela rotina são um caminho para compreender o quanto ela está colaborando para uma saúde mental positiva ou para uma queda nesse estado de bem-estar.

 

O papel do ócio na saúde mental

E é aí que entram as vantagens do tempo ocioso, isto é, do “fazer nada”. Para o médico, como estamos constantemente pensando no que podemos produzir, fazer aos finais de semana, ou onde queremos estar daqui 5 anos, o cérebro não para. “Por mais que achemos que isso é natural e não cansa, inconscientemente o nosso cérebro está se desgastando. Augusto Cury identificou essa atitude mental como síndrome do pensamento acelerado”, explica.

A Síndrome do Pensamento Acelerado é uma alteração em que a mente se mantém repleta de pensamentos, estando cheia o tempo inteiro em que a pessoa está acordada, dificultando a concentração, aumentando a ansiedade e o desgaste físico e mental. “Assim, o problema desta síndrome não está relacionado com o conteúdo dos pensamentos, que geralmente são interessantes, cultos e positivos, mas sim com a sua quantidade e a velocidade com que acontecem dentro do cérebro”, diz.

Dessa forma, as pessoas buscam produzir cada vez mais, sem dar uma pausa ao cérebro, o que pode desencadear doenças psíquicas e até orgânicas. “Por isso, é fundamental termos um tempo ocioso para que nossa mente tenha momentos de descanso, sem que precisemos ficar ligados em pensamentos ‘obrigatórios’, deixando os pensamentos nos levar onde o subconsciente queira naquele momento, sem esforços, pressão ou culpa”, explica. “Além disso, o tempo ocioso ajuda na recomposição da nossa mente, para que possamos voltar com uma criatividade maior para desempenho de novas tarefas.

Ou seja, incluir na rotina os momentos de descompressão e descontração são fundamentais na manutenção da saúde física e mental, e ajuda no desenvolvimento da criatividade, melhora o humor, entre outros aspectos do dia a dia de um indivíduo. “A longo prazo, não somente a saúde mental será beneficiada propiciando melhores relacionamentos, produtividade e desempenho, mas o corpo também sentirá os efeitos disso“, diz. “Sabemos que as doenças mentais são portas de entrada de muitos problemas de saúde e, uma vez que combatemos o que gera o processo todo, também beneficiamos o cuidado preventivo da saúde. Com isso, aplicamos, a partir da saúde mental, o conceito de Atenção Primária à Saúde, no que tange a prevenção de doenças e no bem-estar bio-psíquico-social.”

Fonte: Marcela De Mingo para MSN - Foto: Tookapic para Pixabay

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