Síndrome da cabana: entenda por que há quem não queira o fim do isolamento

Fenômeno psicológico, a síndrome consiste no medo de sair de casa após períodos de confinamento. Especialistas elucidam dúvidas sobre o tema

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As primeiras semanas do isolamento social imposto pela pandemia no novo coronavírus foram sufocantes. Aos poucos, entretanto, o fato de as pessoas passarem os dias no conforto do lar, com mais tempo para se dedicarem a hobbies e à família, começou a despertar prazer em milhares de confinados – além de fazer real sentido.

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Muitos passaram a repensar seus modos de vida e a levantar questionamentos como: “Afinal, para que sair se posso fazer compras, trabalhar, treinar e até mesmo me divertir dentro de casa, num ambiente acolhedor e livre de riscos?”.

Agora, à medida que as regras de distanciamento vão se afrouxando, a agonia que acomete parte desses indivíduos já adaptados ao formato da quarentena passa a ser exatamente o contrário do pânico inicial diante do confinamento: ter de sair da “toca” e voltar ao convívio social.

Se você faz parte desse time que sente calafrios só de imaginar o retorno para a civilização pós-pandemia, talvez seja mais uma das vítimas da síndrome da cabana – fenômeno psicológico que consiste no medo de sair de casa depois de longos períodos de isolamento.

“O termo síndrome da cabana veio à tona em 1900, no norte dos Estados Unidos. Foi criado para explicar um problema que acometia caçadores. Após passarem meses sozinhos em suas cabanas esperando o rigoroso inverno passar, eles sentiam repulsa em retornar à civilização”, elucida a psicóloga e hipnoterapeuta Sabrina Amaral.

“Esse medo de voltar a conviver em sociedade depois do difícil trabalho de condicionar o cérebro a viver confinado vinha acompanhado de ansiedade e estresse grave, sinais que dificultavam ainda mais a retomada das atividades normais”, emenda.

Por estar extremamente relacionado ao atual período de distanciamento social imposto pela pandemia da Covid-19, “o tema nunca esteve tão em alta”, frisa a especialista.

Sintomas

Psiquiatra do Hospital Albert Einstein e presidente do conselho científico da Associação Brasileira de Familiares, Amigos e Portadores de Transtornos Afetivos (Abrata), o médico Luis Felipe Costa e a psicóloga Sabrina Amaral pontuam que os sintomas mas recorrentes da síndrome são:

  • falta de motivação e ânimo;
  • alteração de humor;
  • perda de memória e concentração;
  • sensação de frustração e impotência;
  • alteração no sono;
  • distúrbio alimentar (ingerir quantidade de comida significativamente maior ou menor do que a consumida habitualmente);
  • ansiedade, que pode vir acompanhada de inquietação, irritabilidade e taquicardia.

De acordo com os especialistas, pessoas naturalmente introvertidas são mais suscetíveis a sofrer desse mal.

Medidas para reverter o quadro

Para aliviar a angústia causada pela síndrome da cabana, os profissionais sugerem quatro medidas simples. Além de ajudar no processo de aceitação da ideia de voltar à ativa, os conselhos são capazes de elevar o bem-estar em geral.

1- Respeite seu tempo
A síndrome não é um transtorno psicológico. Portanto, é extremamente normal se encontrar nessa condição emocional após longos períodos de confinamento. Violar o seu ritmo, fazer autojulgamento e comparar os seus sentimentos com os dos outros pode dificultar a saída desse quadro ou até mesmo agravar os sintomas. Seja gentil consigo e respeite o seu tempo.

2- Recompense cada pequeno passo
Técnica amplamente usada no universo da terapia, a dessensibilização consiste em diminuir uma condição com doses mínimas e crescentes. Nesse caso, significa que você, quando for sair de casa pela primeira vez, deve priorizar uma simples voltinha de carro. Depois, aumentar a duração do passeio e, quem sabe, visitar um parque.

No fim de cada simples tarefa cumprida, ainda é importante se recompensar, seja lendo uma frase motivacional ou até mesmo realizando uma atividade prazerosa, como assistir a um filme, preparar uma receita.

3- Você está no controle
Lembre-se de que sair de casa não é como andar em corda bamba ou fazer excursão ao Everest. Traga à memória os bons momentos vividos fora. Entenda, ainda, que você detém o controle de quando voltar para a “toca”. Se sair e se sentir mal, por exemplo, não tem problema voltar às pressas. Um passo de cada vez. Conduza a situação no seu ritmo.

4- Crie uma rotina
O nosso cérebro geralmente se adapta melhor quando seguimos uma rotina. Por isso, estabeleça uma que faça sentido e seja fácil de ser seguida. Inclua exercícios e alimentação saudável na programação. Treinar e comer bem ajudam a manter a energia e motivação em alta.

Quando procurar ajuda

Se perceber que o comportamento não melhora, pelo contrário, se agrava, busque orientação profissional.

“Se os sintomas clássicos da síndrome da cabana perpetuarem por mais de duas semanas, procure ajuda. Atualmente, com a telemedicina, é possível se consultar e receber prescrição médica sem sair de casa”, enfatiza o psiquiatra Luis Felipe.

O médico alerta que a síndrome, quando não monitorada e tratada, pode desencadear quadro depressivo grave.

“Esses sintomas persistentes, principalmente quando aliados a crises de autoestima, podem indicar, sim, uma patologia. Na dúvida, consulte um profissional para decodificar o seu caso”, indica.

Fonte: Bruna Nardelli para Metrópole - Foto: Pixabay

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