Como uma dieta equilibrada pode alterar seu humor e evitar até a depressão – Parte 1

Cientistas têm investigado com mais atenção nos últimos dez anos o quanto os hábitos alimentares contribuem para nosso estado mental. Esforço fez surgir, inclusive, uma área nova do conhecimento: a psiquiatria nutricional.

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Dias ruins mexem com nossa cabeça e apetite. Períodos de estresse fazem não apenas o humor oscilar, mas também a fome. Alguns ficam mais famintos. Outros param de comer. É comum associar ansiedade e depressão a transtornos alimentares.

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O que médicos, nutricionistas e psiquiatras têm investigado com atenção nos últimos dez anos é o quanto nossos hábitos alimentares contribuem para nossos estados mentais de euforia e tristeza. Surgiu, inclusive, uma área nova do conhecimento: a psiquiatria nutricional.

Experimentos em laboratório com camundongos têm ajudado a desvendar como a alimentação nos deixa mais felizes ou tristes. A origem disso não está só em nossa cabeça: para entender como a comida altera nosso humor, é preciso olhar também para o intestino.

O que a ciência já sabe

Somos o que comemos. A influência da dieta em nosso estado mental é imensa. Há uma farta literatura médica sobre esse assunto.

De modo geral, os especialistas observam o equilíbrio entre dois grupos alimentares: açúcares e gorduras. É com eles que obtemos a maior parte da nossa energia, mas também são eles que, em excesso, causam desequilíbrios importantes.

Comer mal danifica o cérebro, por um processo conhecido como estresse oxidativo — a liberação de radicais livres de oxigênio no corpo acontece naturalmente e se avoluma com a idade, mas a dieta pode acelerar esse acúmulo.

A obesidade induzida por dietas ricas em açúcar e gorduras saturadas promove resistência do nosso organismo à ação da insulina, hormônio responsável por “colocar” a glicose dentro das células. Isso aumenta a glicemia, que é a quantidade de açúcar presente no sangue.

Persistindo nesses hábitos alimentares, pode ocorrer o desenvolvimento de diabetes. Além disso, gorduras saturadas comprometem o fluxo sanguíneo e causam inflamação nos órgãos.

Mas o que faz bem ao cérebro? Alimentos anti-inflamatórios, gorduras simples (monossaturadas ou poli-insaturadas) e antioxidantes, como frutas, legumes, nozes e vinho, parecem ter um efeito restaurador sobre o órgão, protegendo-o do estresse oxidativo e da inflamação, que afeta o equilíbrio entre os neurotransmissores, responsáveis por regular nossas emoções.

“Já sabemos que dietas ricas em gorduras saturadas e/ou açúcares são capazes de alterar o estado de humor tanto em animais de laboratório como em seres humanos. O consumo de alimentos gordurosos, como as típicas ‘junk foods’, está associado ao aumento de depressão e ansiedade”, afirma Cristiano Mendes da Silva, do Laboratório de Neurociência e Nutrição da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).

A nutricionista Catherine Ássuka Giriko constatou uma correlação entre dietas ricas em gordura e estados de depressão e agressividade numa prole de ratos adultos cujas mães ingeriram alimentos gordurosos enquanto os amamentavam.

“Usando modelos animais, constatamos que uma gestante cuja dieta é rica em gorduras pode gerar uma prole com atraso neurodesenvolvimental e que tem alterações moleculares importantes na região do cérebro envolvida com processos de memória e aprendizado”, explica Mendes da Silva.

A epidemiologista Camille Lassale, pesquisadora do University College, no Reino Unido, diz que determinados hábitos alimentares podem levar à depressão.

“O vínculo é claro. Não quero dizer que uma dieta ruim nos deixa tristes porque engordamos e nos sentimos mal com o ganho de peso. Nossos hábitos alimentares nos fazem realmente adoecer, mexem com o sistema imunológico, além de afetar a saúde mental.”
Lassale fez uma análise, publicada em 2018 no periódico “Nature Molecular Psychiatry”, em que comparou dados de 41 artigos científicos sobre o tema. Ela concluiu que incluir alimentos anti-inflamatórios na dieta é mais saudável e pode ajudar a prevenir a depressão.

“Indivíduos que adotam dieta mediterrânea (com mais fibras, azeite, verduras, frutas e legumes in natura e poucos produtos processados) tiveram um risco 33% menor de desenvolver depressão do que aqueles cuja dieta menos se assemelhava à mediterrânea”, afirma a cientista.
“De todo modo, creio que a dieta ajuda, sim, a algumas pessoas, e temos agora explicações biológicas de como isso acontece. Dieta e exercícios físicos evitam e combatem a depressão, mas só podem ser vistos como peças de um complexo quebra-cabeças da mente humana.”

Fonte: Ciência e Saúde - Fotografia: Bernadette Wurzinger para Pixabay

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