Afastamentos por Síndrome de Burnout crescem 114,80% – Parte 1

Organização Mundial de Saúde (OMS) muda a classificação do transtorno; veja dicas para prevenir o esgotamento profissional

sector-1153119_1280

Pressão para cumprir metas abusivas, jornadas de trabalho exaustivas, falta de reconhecimento das chefias e de autonomia, várias horas vividas dentro de um ambiente de trabalho tóxico. Muita gente vai se identificar com essa rotina cada vez comum por conta de um mercado acelerado, exigente e movido pela busca incessante por resultados imediatos.

CONTINUE LENDO A MATÉRIA

O esgotamento profissional existe. E não é apenas uma vontade inexplicável de não querer ir trabalhar ou um estresse comum do dia a dia. Chamado de Síndrome de Burnout, o transtorno acaba de ser oficializado na última semana pela Organização Mundial de Saúde (OMS) como uma síndrome crônica. Enquanto um “fenômeno ligado ao trabalho”, a OMS incluiu o Burnout na nova Classificação Internacional de Doenças (CID), que deve entrar em vigor em 1º de janeiro de 2022.

“Isso só prova o quanto o ambiente corporativo hoje em dia está nocivo. As pessoas estão ficando doentes. É urgente que a gente dê relevância a esse tema e comece a tratar as corporações e as pessoas que nela trabalham”, analisa a mentora especializada em acelerar pessoas e negócios e fundadora da B-Have, Erika Linhares.

Atualmente, a síndrome está classificada no CID-10 Z73, na categoria que se refere aos problemas relacionados com a organização de seu modo de vida. Porém, o registro na nova CID aponta que o esgotamento “se refere especificamente a fenômenos relativos ao contexto profissional e não deve ser utilizado para descrever experiências em outros âmbitos da vida”.

A lista da OMS é utilizada como referência para estabelecer tendências e estatísticas de saúde. De acordo com a nova classificação, a síndrome é caracterizada por três elementos: sensação de esgotamento, cinismo ou sentimentos negativos relacionados a seu trabalho e eficácia reduzida.

“Essa provavelmente será a próxima revolução que veremos no ambiente corporativo e que vai fazer a diferença. Hoje, as empresas pensam muito no perfil do cliente, em como conquistá-lo, por outro lado, pensam muito pouco no perfil do seu funcionário: como ter um ambiente amigável e saudável”, diz Erika.

Cansaço extremo

Segundo dados da Secretaria de Especial de Previdência e Trabalho, na comparação entre os anos de 2017 e 2018, o crescimento de benefícios de auxílio-doença com a CID 10 Z73 chegou a 114,80%. O número de benefícios pulou de 196 para 421. Na Bahia, no mesmo período, triplicou: de 7 passou para 21.

Apesar do crescimento rápido, os números ainda são pequenos por conta da dificuldade de diagnosticar a doença, como destaca o psicólogo e diretor técnico da Holiste Psiquiatria Ueliton Pereira. “É muito difícil porque os sintomas são parecidos com o de outras patologias, como angústia, dor de cabeça, pressão alta, irritabilidade. Para diagnósticar o Burnout tem que eliminar vários exames físicos, laboratoriais e psicológicos”.

Não dá para confundir alta performance com trabalhar além do limite, como chama atenção Valerya Carvalho, uma das fundadoras da Escola Sentido. A instituição trabalha com técnicas e métodos para o desenvolvimento do potencial criativo e inovador das pessoas. “Ainda é muito comum que as empresas lidem com a síndrome do Burnout como um ponto fraco das pessoas em lidar com a pressão, ou como uma incapacidade de organização do tempo versus entrega dos resultados”, explica.

Equilíbrio

Foi o que aconteceu com a representante comercial Maria Carvalho, que lidava constantemente com várias metas para cumprir em um curto espaço de tempo. “Os cabelos começaram a cair, sentia muita angústia, dor de estômago, ficava irritada, sofria muito. Domingo eu entrava em desespero porque tinha que ir trabalhar na segunda. Passei a tomar vários calmantes para aguentar”, lembra. O que importava era o número. “Então eu fui demitida. Fiquei tão feliz nesse dia que fiz até uma tatuagem. Foi como nascer de novo”.

Para Sabrina Ferrer, psicóloga chefe da plataforma de terapia online FalaFreud, as empresas ainda não estão preparadas para evitar o Burnout. “É necessário um trabalho de conscientização dos gestores, mudanças de políticas internas de valorização e não somente da capacidade de entrega”, diz.

A diretora de gestão de eventos da Associação Brasileira de Recursos Humanos (ABRH-BA), Fernanda Borges, concorda: “Pessoas felizes com o que fazem produzem mais e disseminam contribuições positivas, mostrando que cuidar delas é um investimento que tem retorno”, acrescenta.

Fonte: Correio 24h – Foto: Wendy Corniquet para Pixabay

Comments are closed.